terça-feira, 26 de maio de 2009

pesadelos

Não sentia sono. E não via motivo especial nisso, o dia tinha acontecido como todos os outros dias.
Tinha feito sua oração noturna. Nunca tinha sido tão religiosa, mas por algum motivo, só conseguia dormir se rezasse um Pai Nosso.
Leu um capítulo de um livro, dois de outro, viu e reviu perfis alheios no orkut e nada.
E quando finalmente achou que tinha dormido, é acordada da maneira mais infantil possivel, com pesadelos.
Por que tinha sonhos desse tipo desde criança? E por que mesmo grandinha, eles ainda a assustavam tanto?
Vai saber...

- Doji

quinta-feira, 14 de maio de 2009

objeto.

Sabia que precisava fazer algo, mas não conseguia pensar. Caminhou pelos corredores da faculdade até que avistou uma grande porta, dando para um estacionamento aberto e algumas caçambas de lixo. Não sabia o que devia fazer, só que tinha muita beleza nos entulhos sob o sol.

A luz do meio-dia quase a cegando brilhava sobre uma lixeira em particular, carregada de pedaços de madeira e móveis destroçados.
Não se conteve, caminhou um pouco mais, curiosidade e uma sensação de estar acolhida, algo que lhe lembrava um lar. Parada, diante dos despedaços da sua universidade, viu uma mesinha, atarracada e de uma extrema simpatia quase rindo.
Hesitou por pura coerção social. Queria se jogar e abraçar a pequena mesa, sem defeitos aos seus olhos.

- Boa tarde! Quer ajuda? - uma voz estranha interrompia um raro momento de intimidade.
- Ah! Boa tarde.
- Quer que eu pegue alguma coisa pra você daí? - o guarda solicito.
- Ah, er, quero sim. Essa mesinha.
-Deixa eu ver...É, eles jogam umas coisas fora muito boas pra vocês, né? hahaha.
Sabia que os outros alunos costumavam pegar coisas no lixo para levar até o ateliê, a surpresa irracional.
E ele pegou a mesa, ofereceu levá-la até o ateliê.
Agradeceu, o pequeno objeto agora sem valor a seguindo rumo a um novo dia sem nada de especial.

por A.Aurea

terça-feira, 12 de maio de 2009

ALICE - E eles

O colegial nunca fora tão dificil. Alice sabe que na verdade, a trama social implícita nele é o que era o grande xis da questão. Questão essa que com certeza pra qualquer garota espeta de quase-13-anos seria mole de se resolver.

Não saberia dizer ao certo porque toda aquela pequena sociedade não hierarquizada precisava constantemente de uma tabulação. Solteira, namorando, peguete, piriguete. Era uma selva. E Alice, como sempre, perdida no meio.

As palavras nunca eram boas o suficientes. Se possível, sempre traduziam ao ouvinte sensações nunca experimentadas pelo locutor. Alice, sabendo da manha, se aproveitava para tirar casquinha das situações de todos os namorados que pretendia ter.

Como seria para aquele que senta lá na frente da aula de português, saber que Alice gostava dele? Praticamente uma paixão epopéia. A informação teria que atravessar toda a sala de aula, de bilhetinho a bilhetinho, na borracha da sorte ou até no cochicho de um sono.

Não. Nunca daria certo. Alice saberia que depois de tanta meia volta o que chegou até o menino foi exatamente o que Alice falou. E assim a festa fica chata. Melhor então pensar na gramática.



por robusti

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Você

É um daqueles que dá vontade
de ficar o dia todo embaixo da árvore
falando besteira.

É um daqueles que dá vontade
de ficar o dia todo cozinhando coisinhas
mesmo que saiam queimadas

É um daqueles que dá vontade
de ficar o dia todo jogando joguinhos
e fazendo nada

É um daqueles que dá vontade
de ficar o dia todo de mimimi
só porque tem paciência

É um daqueles que dá vontade
de ficar o dia todo implicando
e chateando porque é divertido

Estou num dia meloso.
Aproveite.



por Robusti

terça-feira, 5 de maio de 2009

hnm, vc gosta de escrever?

"não tem problema. só estou perguntando se vc gosta, não se vc escreve bem."


Na verdade eu nunca parei pra analizar o potencial de escritora que há em mim. Mas uma coisa eu tenho certeza: nunca me dei bem em redações na escola.
Nunca sabia por onde começar, tudo acabava virando uma grande redundância, uma encheção de linguiça que aos poucos perdia o fio da meada e quando parava pra analisar o texto, nada mais fazia sentido.
Por isso que sempre me identifiquei com fotologs e afins. Não requerem profundidade. Você coloca a foto, escreve meia dúzia de linhas sobre como foi o seu dia e pronto. Ninguém vai ler mesmo. Se alguem vier a comentar, será um: "que foto legal" ou um "uia.. que sexy!"
Perfil do orkut é letra de música. Twitter, graças aos deuses, só aceita até 140 caracteres.
Mas um blog... esse sim é o grande desafio. Não sei quantos mil caracteres, apenas letras, palavras, onde cada pessoa que visitar vai estar prestando atenção no que você escreveu, não se a pose valorizou o seu decote. Onde o quê importa é o seu cérebro (ou a falta dele) e não o seu rosto.

Onde se vê coração, e não cara.


- Doji

ALICE - to louca?

Alice estava nervosa. Roer unhas não era um esporte preferido mas no caso de não ter um pote de chocolate para devorar, como toda pré-adolescente, acabou ficando com as unhas mesmo. Além das unhas e depois da útima sessão de cinema, percebeu que a sua vida estava escrachada num filme. Meio que nem um recorte e cole do dever de história sobre a Idade Média. É, agora ela entendia como não era legal para os nobres e os servos serem facilmente definidos com verbetes da web.

E ela? Porque era uma mistura de personagens imbecis que só fazem é complicar a vida um de cada um? Alice realmente não sabia o que fazer. E então? Ligaria ou não no dia seguinte para ele? Alice não se sentia esperta. Sua espertesa agora, era tão profunda como de um pires.

Alice sempre foi uma menina decidida e racional com suas coisas, independente das coisas serem os garotos. Ela queria poder resolver seus problemas emocionais tão bem como suas questões de matemática. Ela estava falando do casal amigo da escola, mas se deu conta que o filme que estava falando do casal que na verdade estava falando dela e de seus pensamentos. Alice se sentia idiota. E, saber que a negação da verdade implica em fazer besteiras não era o suficiente. Sabendo disso, ela com certeza iria mandar aquela mensagem de texto fofa para o ex-namorado.

Coisa pior que parar de falar com o seu ex-namorado é mandar uma mensagem de texto sem nexo para ele. Principalmente quando ela estava pensando no outro garoto da vez. Quer solucionar o seu futuro? Recorra ao passado e surte. Essa era a dica da vez. De merda, por assim dizer. Alice sempre foi confidente e conselheira das amigas, principalmente daquelas que repetiam a lenga-lenga para elas mesmas. "Não faça isso, sua burra", aconselhava.

E agora? Perdida, idiota e com uma mensagem de texto enviada para o garoto errado Alice se sentida mais confusa do que abóbora. A abóbora nunca vai saber o porquê de ter vindo ao mundo. Se é doce, salgado ou se é para dar medo em criancinhas. E quase que abóbora ela mesma, Alice não conseguiu ter nenhuma idéia genial, daquelas que se inventam as dobradiças ou de colocar sal no chocolate derretido.



por Robusti

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ALICE - Bom dia é a sua mãe!

Alice acordou de novo. Atrazada, que droga. Já estava pensando em como, quando e porquê não ir para a primeira aula. Calçou os sapatou e foi para o banheiro. O sono não era muito, mas era confortável. Ele a embalava e a ninava, dava cafunés e abracinhos. E era tudo isso o que Alice mais queria. Mentira, diamentes são os melhores amigos das mulheres. Bom, mas na falta deles, uma cama quentinha é bem proício, não? Olhou o relógio. Droga, ainda dá tempo de ir pra aula. Olhou a cama confortável e lembrou de todos aqueles sentimentos que a envolviam há cinco minutos atras. Droga, pensou Alice, quero colo, já no ônibus.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

terça-feira, 31 de março de 2009

the Wonderland of Oz

"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."
- William Blake

Lucy me deu a mão. Disse que conhecia o caminho.
Eu acreditei, segurei a mão dela e deixei ela me guiar.
Logo no início deveriamos escolher entre 3 caminhos.
Eu perguntei qual e ela riu. Olhou para mim e me deu um beijo.

O que seguiu então foi único. Indescritivel.

Acordei em casa, mas parte de mim ficou com ela.
Ou talvez eu esteja com ela e somente parte de mim tenha voltado para casa...


- Mad

sábado, 21 de março de 2009

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

- João Cabral de Melo Neto

segunda-feira, 9 de março de 2009

gOOD fRIDAy

Seus olhos de “amarela” completavam o décimo terceiro dia sem dormir, e o tom rubi deles vinha tanto da luz da lâmpada fluorescente usada para iluminar as miúdas letras do livro como de sua sensação de vácuo na alma. Sua insônia era algo que fortalecia o seu sentimento de TPM eterna. Um humor ácido e intragável, uma postura anti-social inigualável. Um não bem-querer por toda e qualquer coisa que tivesse a cor laranja, lembrasse o sol. A única pessoa de seus poucos contatos, o dono da loja de conveniência do posto de gasolina próximo de sua casa, gostava disso, lucrava com isso. Os atendentes sentiam um grande mal estar só de olhar aquela pessoa irritante entrando, quase a suplicar outro pacote de Marlboros. Ninguém mais ousava falar nada após a cena em que a simpática atendente que disse talvez a nicotina e a cafeína as causas das noites não – mal dormidas. Um ou outro chocolate meio amargo (e poderia ser outro sabor) fazia parte de suas compras.
Eram dias estranhos, entediantes, embotados, com teclas do controle remoto desbotando. Dias que foram completamente alterados com uma rádio sintonizada por acaso. Um som antigo que despertou um sentimento totalmente novo, um sentimento de “eu poderia ir, eu poderia dançar e tomar um uísque e depois voltar, talvez dormisse, ou talvez nem ligasse para o depois”. Despertado o sentimento de poder ser una novamente. Uma nova possibilidade de comportamento. E se ela tentasse, somente tentasse colocar seus tênis All Star marrons, sua bolsa pseudo-moderna, uma camiseta, calças e make-up noturno.
Um banho demorado, com cada parte de sua pele sentindo a bucha vegetal encharcada de sabonete, água morna e shampoo nos cabelos. O frio da torneira do chuveiro a impulsionava para as ruas. Como preparando-se para uma cerimônia passou hidratante pelo corpo, permitindo-se excitar com o toque de suas mãos. Roupas, tênis, secador, para os olhos: delineador e rímel e um pouco de sombra preta. Para o rosto base e blush, finalizando com gloss. Brincos e bottons na bolsa, que estava equipada com toda e qualquer coisa que por ventura fosse necessária.
As chaves funcionaram o carro. Pensou que os dias de garagem obrigariam um pedido de socorro ao vizinho devido algum problema na bateria, mas não. O ronco do motor cansado era tranqüilizante e fortalecedor. Faróis altos, som com músicas aleatórias e os pneus deslizaram pela irregular camada de asfalto.
O brilho vindo dos postes, letreiros de cores duvidosas e semáforos. Tons de amarelo e vermelho brilhando em outros veículos, o hodômetro mudava de dígitos como o relógio de seu pulso – uma estranha e saborosa pulsação.
A dúvida de sempre: e para onde aquelas pessoas estariam indo? De onde vindo? Teriam deixado em casa alguém para quem voltar? Sentia o vento que entrava pela janela do carro como uma carícia, e por enquanto aguardava o sinal naquela avenida abarrotada pensou em voltar. As buzinas ensurdecedoras fizeram que, mecanicamente, continuasse.
Facilmente achou uma vaga em frente ao único lugar que conhecia que poderia dançar por horas e horas e se sentir em casa – um pub tipicamente inferninho. Interpretou como um sinal santo de aprovação de sua atitude.
- Droga!!! Ainda falta mais de 30 minutos para abrir o bar!
Resolveu esperar num outro bar qualquer. Não faria diferença. Sentou num canto, iluminada por olhares de casais jovens e preconceituosos e quarentões sedentos por um par de coxas. Pediu uma bebida, cinzeiro e deliciou-se com o efeito da fumaça que escondia seu rosto. E ali ficou por uns bons 4 cigarros. Levantou-se, pagou e alimentou-se de cada passo pelas ruas, que nessa hora estavam um pouco mais agitadas do que quando chegou.
Instintivamente, estava sorrindo para as pessoas. Ato de sobrevivência? Simpatia? Seja qual opção for, era involuntário. Preencheu sua comanda e entrou como qual entrasse numa recepção VIP no Automóvel Clube. Disse um olá lascivo para o barman, pegou uma bebida e cada pedaço de seu corpo foi invadido pela música. Sua respiração e seu suor eram música. E percebeu não existir ninguém mais que fosse visível ali, naquele lugar que pouco mais de três horas após aberto estava insuportavelmente lotado.
*Srta. Leite

sábado, 28 de fevereiro de 2009

ALICE - Toda toda

Alice não sabia das consequências da vida. Na verdade, Alice pouco pensava nessas coisas. Doze anos não era idade de meninas e um futuro melhor andarem juntos.

Festas, sociais, rock'n'roll. Descolada e cheia de yeah-yeah-yeah a garota problema pouco entendia o que seria confusão. Alice pegava carona de moto para Angra com o amigo do ICQ para ir numa rave. Normal ué, amigo não era pra essas coisas? E dividir a casa com o amigo que se conheceu no metrô? Todo mundo tem problemas de grana.

Alice mesmo que adolescente inconsequente morava sozinha. Morava sozinha porque sua única família tinha 87 anos, perda de memória recente e sempre almoçava um número aleátorio do Mc Donalds.

Cheia do dinheiro e vazia de noção, Alice magrela fazia do seu nariz o bem o que entendesse. Além do nariz, o umbigo de Luana ia muito-bem-obrigado com seu mais novo piercing de borboleta rosa. Ninguém sabia disso, é claro. Luana não estava nesse mundo pra ficar mostrando a barriguinha pra qualquer um.

Segunda tinha o Carlinhos. Mas ele era simpático. Alice, não sabia muito bem porque tinha começado aquele rolo. Terça era sempre dia livre, pra variar o almoço, ir no cinema e coisas legais. Já quinta o André aparecia na sua casa pra dar uns beijos. Final de semana era do Guilherme, porque esse era o namoradinho. Ué, que mal tem?


por Robusti

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

peso.

- aaaai! meu estômago vai fugir.
- que vai fugir menina?!
- meu estômago. ele tá me batendo por dentro, eu sei que está tentando escapar.
- você é doida!
- não sou doida! você que não está na minha pele!

sabe, dizendo isso entendi que era verdade: o problema é que ele nunca esteve na minha pele. nossa comunicação jamais conseguiu ser mais (ou menos) que verbal. e falar estava começando a me incomodar.
quando digo algo, não quero que sejam palavras representando uma figura objetiva e sim que fiquem suspensas no ar, dando cutucões leves, fazendo cócegas nas pessoas ao redor, causando sensações. minhas palavras são sensações.
não era tão dolorido falar antes, eu estive ansiosa por falar tudo de mim e ouvir tudo dele, podia tocar as palavras e transformá-las em cubinhos sólidos, colocá-las no bolso e na verdade muitas delas eu ainda guardo. hoje em dia solidez não me atrai, e tenho lançado tantas coisas fora na tentativa de diminuir o peso da não-compreensão que carregar a minha leveza tornou-se um fardo insustentável.
quanto menos eu falo mais ele preenche o espaço de tempo com dúvidas, acusações, provocações e por fim, transforma meus momentos de silêncio reflexivo e tentivas de encontrá-lo na minha essência em momentos de constrangimento e culpa por não estar "ligada em fazer dar certo".

vendo esse olhar ansioso e esse nariz reto podia jurar ser um pedaço de mim, se eu esticar um pouquinho o braço posso tocar sua alma e talvez
- disse alguma coisa?
- não, eu não.
- achei que tivesse ouvido você resmungar.
- não resmunguei nada, só te encostei, não posso? pelo visto não, parece ter espinhos...
- espinho eu?! você
(...)

por A.Aurea

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dance com um desconhecido

Haja como se a vida fosse assim
Simples como beijar um desconhecido
Aproveite cada risada dessa gente louca
Porque a loucura é um resgate da razão

Quando seu melhor amigo vier
Dê nele um beijo na boca
Abrace cada músculo de sentimento
Viva com cada fibra do todo
O mundo é nosso até o último espírito

Dance com os desconhecidos
Conheça um novo amar diferente
Venha pro carnaval de outro alguém
Esqueça tudo que você tinha em mente

Não vamos nos prender ao que dizem
Aqueles puristas sacanas inflando se prazer
Se você não sabe fazer algo belo
Faça algo que seja sincero

Seja um garoto feminino
Ou uma mulher-soldado
Desafie a antítese, faça seu paradoxo
Acabe com o que sua mãe acreditava
Se você não inventar estará acabado

Dance com os desconhecidos
Conheça um novo amar diferente
Venha pro carnaval de outro alguém
Esqueça tudo que você tinha em mente

Largue suas roupas no sofá
Curta sua nudez de janela aberta
Aproveite enquanto você pode girar
Note como é bom quando a gravidade te afeta
Não pode parar, não pode parar, não pode parar.

Faça da pornografia sua poesia
Transforme fluido em verso
Flua desejo em fantasia
Deseje estar sozinho no universo

E venha dançar com um desconhecido.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Henrique

Henrique desligou o telefone. Ele não se sentia bem. Não sabia, ao certo, o que era que incomodava. Cansaço, dor de cabeça, enjôo. Tudo era chato. Henrique sabia que muito daquilo tudo poderia ser mais uma ridícula tentativa de tentar se ocupar consigo mesmo e que não daria certo. Pedro estava na sala, lendo revista de mulher. Não tinha nem idéia do que se passava na cabeça de Henrique. Pedro, na verdade, não tinha muito porque pensar nisso e virou mais uma página. 

O calor abafava, o ventilador não funcionava e tudo tinha algum motivo para incomodar. Por mais que houvesse coisas novas em sua vida, olhe o Pedro lá na sala, Henrique perdia seu foco para fora do mundo e concentrava-se a oscilação da intensidade da luz do seu quarto quando alguém estava tomando banho. E como isso o incomodava. Tudo lhe dava dores de cabeça. 

A felicidade já não mais se encontrava ali. Pedro que era um cara legal, o divertia e o fazia sorrir quando estava por perto. Eles se gostavam. Mesmo assim Henrique tinha que procurar catalogar como e onde todas as coisas do mundo o incomodavam. A animação de Pedro até empolgava Henrique, que com desgosto o descrevia como um novo necessário. Ele sabia que não era feliz, mas não se achava triste. Era quase que impossível estar deprimido. Essas coisas só acontecem com os ricos, já dizia a revista de mulher. Então, perdido no mundo, Henrique continuava a se entediar.

Pedro vira mais outra página e o saco plástico fazia um barulho terrível por causa do ventilador do quarto. Henrique sabia que a culpa não era do saco mas mesmo assim o jogou fora. O enjôo aumentara e ter que levantar da cama para pegar o saco lhe mostrou que estava tonto. Pedro virou mais outra página e Henrique... Ele estava virando uma dona-de-casa. 


(continua?)


por Robusti

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Uma árvore habitada

É, vai ser por escrito, e só assim
Que vou conseguir dizer, enfim
As certezas que tenho, até
Que garantem cada “te amo”, pois é.

O tempo desdobra, não vê?
E dura tão pouco, você
Que seria difícil se não fosse comigo, crer.

Então como fazer, como fazer afinal
Para deixar a saudade, tão normal
Longe das horas do meu dia, mortal
Sem precisar recorrer ao telefone, banal.

Porque é como você me faz sem saber
Uma árvore habitada de um ser
Um velho a brincar de criança a valer
Um religioso que adora beber
Um viciado que aprende viver
É você, você, você.

A semente, vai lá, já plantei
Demorou quase quatro estações, bem sei
E que frutos o céu mandou, intriguei
Exatamente o que precisava, falei!

Não me seguro, que vergonha
De ser uma pessoa como as outras, risonha
Satisfeito de ter alguém assim, que sonha
E dá força para superar qualquer coisa, céus, medonha.

Porque é como você me faz sem saber
Uma árvore habitada de um ser
Um velho a brincar de criança a valer
Um religioso que adora beber
Um viciado que aprende viver
É você, você, você.


É, criei coragem, amigo
De fazer a última pergunta que me aperta, no umbigo
Você quer mesmo namorar, namorar comigo?


por Tiano YiffiY

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Bist du Verrückt?

    - Tschüss!

            - Bis bald!

            Terminava mais uma aula e ele foi até a secretaria para pagar uma prova de segunda chamada. Tudo muito corriqueiro. A secretária pediu licença, ia trocar o dinheiro na lanchonete e ele ficou ali sozinho, com o recibo na mão e pensando sobre a aula do dia, matéria difícil, mas de repente seus pensamentos o abandonam de forma abrupta e até cruel, sua mente se esvaziou por completo, abrindo espaço para aquilo.

            Longo cabelo preto, assim como seus olhos, e bem lisos no meio das costas. Muito branca, seios agressivamente fartos e pernas à mostra – trajava um belo vestido verde decotado, mas não muito curto, “na medida certa”, ele pensou. Sentiu as pernas tremerem, as mãos suarem e no meio desse carnaval de sensações a secretária apareceu com o troco. Pegou-o com as mãos meio incertas do que estavam fazendo e com o canto do olho viu que a moça de verde tinha parado à porta do curso para conversar com uma professora. Ele ainda trocou algumas palavras aleatórias sobre amenidades com a secretária, mas elas saíam deliberadamente da sua boca porque a mente – e o rabo dos olhos – buscavam incessantemente pela moça de verde.

            Se despediu da secretária e respirou fundo. – “Se eu desmaiar, chamem a ambulância” – deixou escapar em voz alta. Rumou à porta, tocou seu amuleto e foi em frente.

            - Com licença, boa tarde – aqui um belo sorriso, misto de nervosismo épico com uma tentativa vã de não parecer um louco aleatório.

            - Boa tarde... – ela tinha uma voz viva, encantadora. Ele continuou sorrindo.

            - Pode me passar seu número de celular? – e sua tentativa de se mostrar são foi a zero.

            - Oi?!

            - É, seu número. – agora a face cínica mostrava algo como se isso fosse totalmente normal.

            - Porque eu te daria isso?? Nem te conheço!

            - Pois então. – ele respirou fundo e sentiu que seu diafragma sairia voando pelo nariz – Pois então, eu pensei em te pedir em namoro agora, mas poxa, nem eu aceitaria em namoro uma moça descabelada e aleatória com cara de maluca sem nem conhecê-la! Certamente um cinema, um sorvete ou quem sabe um passeio pela Lagoa Rodrigo de Freitas faria alguma diferença em algum tipo de avaliação. – ele disse tudo de uma vez só.

            - ... – silêncio acompanhado por uma feição meio incrédula meio com medo.

            - Começa com nove?

 

 

            Não, não aconteceu assim, pelo contrário. Mas ah... er wollte mut haben...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

While My Guitar Gently Weeps...

Acordei, saí da cama, penteei o meu cabelo
Você sabe que eu trabalho o dia todo
Feche os olhos e eu irei te beijar
Amor, amor, amor

Custou tanto para eu descobrir
Ninguém nunca me amou como ela me ama
O que quer que tenha acontecido
Haverá uma resposta

Certa vez eu tive uma garota
Eu não sei, eu não sei
Tente ver do meu modo
Como eu me sinto ao final do dia?

O amor era um jogo fácil de se jogar


por Mad

domingo, 18 de janeiro de 2009

Escolhas...

Depois de começar a escrever uns cinco a seis parágrafos diferentes e apaga-los, resolvi começar com a reclamação de que escolher algo tão simples é difícil pra cassete. Começa a ficar doentio quando se para para pensar que cada escolha que façamos, como um simples 'sim' ou 'não', ir andando ou de ônibus, chegar atrasado ou antes da hora, qualquer coisa que façamos escolhas, pode influir pela vida inteira.

De manhã, balbuciar mesmo que seja sem vontade ou puramente mecânico, pode trazer-lhe uma boa amizade, ou quem sabe futuros favores. Sair com cara de puto, ou como um capitão dizia, "cara de quem come cú" pode ser uma ótima defesa contra qualquer lixo ambulante mal intencionado.

Quando paro para pensar em algumas escolhas que fiz, vejo que por mais simples que tenham sido, elas desencadearam um efeito na vida de alheios, ou até mesmo apenas na minha, mas por um certo tempo. Falarei de alguns exemplos.

"Minha irmã, até a um certo tempo atrás pelo menos, dançava Jazz, um estilo de ballet só que mais contemporâneo a vista de um inculto nas artes que sou. Bem, tinha uma apresentação dela num final de ano, não estava com muita vontade de ir, mas mesmo assim fui, para agradar minha irmã mais velha, sabe, aquele sentimento de bom menino de final de ano, ainda mais que estava muito próximo ao aniversário dela, não queria fazer uma desfeita.
Sabe, apresentação desses espetáculos normalmente são de certa forma o mesmo público, amigos dos participantes, familiares ou curiosos, acho que naquele dia eu era os dois últimos, embora muito mais para curioso, procurando algo que fosse me tranquilizar e desviar meus pensamentos e rotina estressante.
Mas algo estava meio diferente, distoante de todas aquelas cores em movimento, algo chamou minha atenção, algo que me fez 'parar para ver o show', quando me dei conta, de que um sorriso no palco, realmente me fez esquecer o que qualquer coisa possa estar passando pela minha cabeça. O que acontece que mais do que ficar curioso de quem carregava aquele sorriso eu tinha de conhecer o complemento, essa foi minha escolha e ação...até hoje converso com aquele sorriso..."

"Na vida de todo homem brasileiro que esteja em dias com suas obrigações e deveres de cidadão (porque direitos tem poucos), uma hora ele terá de falar um 'sim', ou um 'não' que pode incorrer a apenas um alívio de ter escapado de uma suposta 'furada', ou em um ano de rotinas que as mesmas podem ser a 'melhor' ou umas das 'piores' coisas que podem ocorrer na vida de cada um, depende apenas de como o espírito de cada um acolher o militarismo.
Até hoje, falo que servi por um ano por que eu quiz, mas a verdade é que quando me deram a última chance de desistir de ficar lá, eu simplesmente não escolhi, fiquei com a idéia do 'tanto faz'. A questão é que quando não se faz nada, acaba que não escolher também é uma escolha.
O um ano que passei por causa de uma escolha, feita ou não, reflete até hoje no meu carater pessoal e vejo que de certa forma irá me influenciar até o fim da minha vida. Quando lá dentro eu estava, aprendi muito mais do que ordem, militarismo, manusear armas ou ser um 'pau-mandado'. Coisas muito mais profundas como o limite, a determinação e a vontade, a chama 'moral' tão mencionada no meio militar. Uma escolha que não me arrependo..."

Mas eu me arrependi de alguma!? Mesmo que me arrependa, não há volta, afinal, "O perdão não desfaz o feito".

Quando estiver com mais tempo para sentar em frente ao computador para divagar sobre minhas escolhas posso falar de outros exemplos...mas a verdade é que provavelmente falarei de alguma outra coisa.

Pense em todas as suas escolhas, ou mesmo a falta delas, serão para a vida toda.

por Arkario

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Devil got My Woman.

acordei hoje sentindo o corpo estranho.não parecia o MEU corpo. era maior, mais pesado, mais rijo.
demorei a levantar, não conseguia mover direito: trocaram meu corpo enquanto eu dormia.
tentei pôr meus óculos matinais - os de mau-humor matinal - mas eram pequenos, e eu enxergava mal com eles. Tentei colocar os óculos que usava quando estava surpresa, e os de quando estou assustada.todos ficaram pequenos, e todos incomodam minha visão.
meus movimentos são difíceis agora, eu quebro coisas frágeis, e meus joelhos doem o tempo todo. pareço pesada demais, muito peso, muita dor, muito incômodo.
quero saber onde foi parar o meu corpo.só isso.
braços grandes e fortes, corpo de homem.
de todo o ruim, o pior era estar sem a proteção dos óculos.entendo que esses novos olhos não precisam de grau, mas não consigo estar tão desnuda.
olhar no espelho me assusta, tenho medo de ter corpo de homem pra sempre.
já quis ser maquiadora, empreitera, professora, filósofa, publicitária, bilheteira de metrô, todas as coisas do mundo....mas homem nunca quis.
esse homem tem olhos azuis e porte atraente. tem 20 anos, parece, e cresceu rápido demais, sinto nos ossos. ser um homem bonito não vai facilitar minha vida, certamente não.
estou apavorada, e só quero saber onde está minha vida, pra ir buscá-la.ainda que seja no inferno.

por A.Aurea

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

fINALLY wE aRE nO oNE

Bernardo esqueceu-se de desprogramar o rádio relógio. Acordou domingo como se fosse segunda feira. Sentia em sua garganta o tão famoso gosto de cabo de guarda chuva. Não entendia bem a expressão, mas achava engraçado. Levantou-se e diante do espelho já desconfigurado pelo tempo barbeou-se. “Por que faço isso sempre” questionou-se. Abriu o armário e deparou-se com suas dúzias de camisas verdes e calças marrons. Odiava seu uniforme. Foi quando olhou para a agenda na mesa de canto e abrindo viu que era domingo: “Demônios”. Pegou uma calça jeans, seu all star azul e camiseta branca. Saiu.

Sem sentir saudades de sua cama ou tomar café, andou por duas quadras. Parando em frente à banca de revistas leu as notícias do dia, e viu sua cidade com os velhos e costumeiros relatos no jornal do dia: Homem degola esposa, três filhos e se mata depois. Os corpos somente foram achados pelos visinhos devido ao latidos do cachorro faminto. Suspirando Bernardo pensa: “Que porra de vida... e o que eu ainda faço por aqui?”.

Na padaria pediu um café com leite médio e um pão de queijo. Sentou o mais afastado possível da porta. No primeiro gole notou uma garota de olhos brilhantes e tristes a admira-lo. Usava um vestido laranja e tinha cabelos curtos. Sentiu que estava num misto de encantamento e susto. Ela aproximou-se com passos tímidos e perguntou: “Qual seu nome”. Sem muito pensar respondeu que era Roberto e sorriu. Era como se um caminhão de serenidade o tivesse invadido. Diante dele a possibilidade de ser outra pessoa...Uma história que pudesse ser construída antes de vivida. Ao escutar a pergunta do que fazia continuou seu relato fantasiado: “Sou topógrafo. Estou de passagem na cidade”.Frente ao crescente encantamento da mocinha, Bernardo resolveu não render assunto, era já uma curiosidade incômoda, ou simplesmente ele estava incomodado. Levantou-se e com um seco aceno de cabeça despediu-se. Sentiu que era acompanhado até a saída por aqueles olhos. “O que terei de tão curioso para ela me olhar assim? Tão linda...”.

Bernardo andou pensando arrastadamente sobre sua vida – “eu, solteiro, 27 anos, contador, morando a duas quadras do trabalho. Se for necessário um resumo de mim seria um nada; um nada com camisa verde e calça marrom”.

A essa altura estava diante de uma Livraria que muito gostava. Comprou um maço de Marlboro, jornais do dia e pediu um café expresso. Sentou e sentiu uma tristeza estranha no corpo.

Já com os ouvidos treinados, nesse domingo não teve dificuldade alguma para acordar. O despertador funcionou como se fosse um dia comum. Baseada nas rotinas do dia teria tempo disponível para tomar banho, e assim o fez. Colocou o vestido novo, e sentiu-se bonita como a muito não ousava sentir. Pegou o restante do dinheiro que tinha, colocou na bolsa e saiu, como fazia todos os dias, religiosamente.

Ela sofria de uma melancolia solitária. Veio para a cidade para estudar e continuou. Formou, arrumou emprego, saiu da casa dos tios, alugou um apartamento duas quadras do trabalho. Contudo não era feliz. A vivência da rotina estabelecida angustiava. Tinha pensamentos fantasiosos e nenhum interesse em relacionar-se com outras pessoas. Tinha. Desde que esbarrou com seu vizinho no elevador começou a criar o desejo que tudo fosse diferente. Descobriu que Bernardo trabalha no mesmo prédio que o seu, e desde estão estabeleceu uma organização da sua vida em função dos hábitos de Bernardo. Acordava na mesma hora, mesmo por que o rádio relógio dele é extremamente barulhento. Estava na portaria do prédio quando ele passava, e sem ser percebida iam juntos para o trabalho. No momento de voltar para casa tinha os mesmos comportamentos. E quando possível saia também à noite, na esperança de ser por ele notada. Havia quatro meses que não fazia outra coisa senão isso, ser uma sombra na vida de Bernardo. Cansada, prometeu-se uma ação.

Quando entrou na padaria sentia seu coração na garganta. Entendia tão bem o sentido da expressão que já achava engraçado. Ali estava ele, tão radiante com sua camiseta branca. Ela chegou a pensar imaculado, mas não era tão ingênua assim. Com todo sopro de desejo esboçou um sorriso e perguntou-lhe o nome. Sentiu-se uma idiota, fazia milhões de poemas mentais com esse nome, costumava até a dize-lo de trás para frente, divertindo-se O-D-R-A-N-R-E-B. Foi como se algo rasgasse de seus ouvidos até seu peito, quando escutou Roberto. “Quem é Roberto meu Deus? Eu tenho certeza que ele chama Bernardo, afinal já vi correspondências dele. Vou tentar perguntar outra coisa”.E seu espanto aumentou com a história descabida de que ele era topógrafo e não morava aqui. Diante das respostas e do aceno seco de cabeça sentiu desmaterializar-se. “Cadê a porra do chão para me sustentar?” Até quando a vista alcançou acompanhou seu caminho. Pensou em ir até ele, dizer da loucura que é estar tão apaixonada. Pensou em não fazer nada, não dizer nada. Só lhe restava voltar para casa. Ou não, ainda tinha alguns reais na bolsa. Resolveu naquela hora que realmente Bernardo não existia. Não era ninguém com quem devesse preocupar, nada. Atravessou a rua e conversou com a dona da banca, que já era uma velha conhecida. Folheou uma revista feminina e pôs-se a andar. Parou diante de um lugar que lhe agradou os olhos. Entrou e pediu uma coca cola light lemon. Ficou muito tempo admirando os livros, pegou Pensamentos de um Samurai Moderno, levou ao caixa e foi correndo para casa ler.

Bernardo não acreditou quando viu aquela moça tão linda entrando na Livraria. Era como se tivesse suas preces atendidas. Sentiu-se um idiota por não ter falado seu nome verdadeiro. Quando ela passou por ele e nem o notou era como se toda a vergonha de querer ser Roberto o invadisse. Docemente ela dedilhava os livros na estante e bebia seu refrigerante. Quando ela saiu apressada, perguntou ao caixa qual livro era, diante da resposta comprou um igual. Passou o restante da tarde e início da noite lendo. Apagou a luz do abajur e fechou os olhos para esperar o sono.

Ela ficou a tarde lendo. Tomou banho no final do dia. Sentiu-se lavada. Fez as sobrancelhas, colocou o pijama e voltou para a leitura. Não tinha nada mais além daquilo, e nem mais o gosto bom nos olhos que sentia desde o dia em que recebeu o sorriso do Bernardo, ou será Roberto?



por Srta. Leite*

Lorotinha Parte Três. 2ª Edição

Teresópolis. Lugar calmo e fresco onde a sua vó vai sempre para fugir do Verão. É um lugar onde aquele dedinho de Deus tocou sem pudores para deixá-lo ainda mais sereno e acolhedor. Teresópolis, na nossa vida, sempre esteve lá. E sempre existiu o apartamento de terê. 

Era um apê simples, ele nunca quis ser mais nada do que um 2 quartos com um banheiro. Os seus dois humildes quartos ficam um do lado do outro em que suas respectivas janelas são juntas, separadas somente por uma parede. Quer dizer, pode ser que já tenha sonhado com uma suíte certa vez. Coitadinho, mas ele não tem culpa de nada. Querer ser uma mansão, quem sabe, aí sim ele iria para o Inferno.

Além de vovó, todos nós gostamos um pouco de fugir do Verão. Não podemos ser egoístas e querer deliberadamente tomar o lugar do nosso querido gringo na nossa praia. Que aburdo! E então estávamos todos lá, socializando na madrugada sala adentro como normalmente os normais fazem, ou quase isso. 

Bebida, joguinhos, bebida, cigarros, cartas. Era realmente um dia monótono na vida de adolescentes transgressores das leis que não estavam transgredindo nada. Chato. Bebida, joguinhos, bebida, cartas. Chato. Nem uma maconhazinha ou muito menos um strip poker para animar a todos. 

O grupo estava lá, meio altinho, quase sóbrio. Até tinha alguém ganhando no Imagem & Ação. Acontece que nem na sua e nem na vida de ninguém isso ia ficar assim. Chato. Obviamente cada um foi querer fazer algo mais interessante. Sei lá, tentar ganhar uns beijinhos de umas das meninas, quem sabe. Mas se você já tem uma namorada, não tente fazer isso com ela no mesmo apartamento de verão que você esteja. 

Chato. Um dos meninos vai ao banheiro. Só Deus sabe o que o banheiro tem a oferecer melhor que aquela monotonia de sempre. Seria mais do que miraculoso se o dedinho de Deus aprontasse de novo e colocasse uma stripper no banheiro. Aí sim o apartamento iria agitar. Mas Deus, em sua infinita sabedoria, pôs o dedinho no meio mas não pôs a stripper. É, acontece com todo mundo e com certeza vai acontecer com você, amiguinho.

O cara do banheiro termina seus trabalhos e olha envolta. Esquerda, chatice. Direita, cama. Não tem muito o que escolher, a profundidade da questão não é maior do que a de um pires. Cama. 

Cama, cama. Teto, teto. Lustre. Olha, estrelas! Sim, Teresópolis não tem a delicadeza da poluição e muito menos a suavidade de um trânsito. Imagine! No máximo ela é prima em terceiro grau de uma cidade grande. Mas entenda, as estrelas encantam. Já dizia Neil Gaiman que elas são gostosas pra caralho e com certesa confirmado por Yvaine.

Estrelas, janela, estrelas! O sopro do vento gelado bate no rosto e ele olha para o outro lado. Olha pra cima, olha pra baixo, esquerda, direita, esquerda de novo. É ali que percebe a outra janela, aquela mesma daquele quarto que um dia já quis ser uma suíte. Baixo, cima, direita de novo. Para Tico e Teco não há confusão. Quem não iria pensar em atravessar quase três da manhã de uma janela para a outra? Imagine só, o que todos nós teríamos a perder? Obiviamente, ninguém tem problema com um braço a menos ou uma perna quebrada. 

A idéia do cara é tão inacreditável como uma nota de três reais. E talvez por isso que ela se fincou ainda mais entre os dois esquilos. Tadinhos, estavam mais do que abobalhados com as estrelas. Primeiro mão, é sempre bom ter onde se segurar se alguma coisa der errado. Depois pé. E, por último, todo o resto.

Homem! Mulher! Preto! Branco! Michael... Jackson? E fim de jogo. Elas ganharam, sempre ganham. Mulheres são sempre como aqueles bichinhos peludinhos fofos que dão medo e mesmo assim a gente cuida deles. Elas obviamente tem um código secreto para vencer no Imagem & Ação, talvez uma piscada de olho a mais ou um mamilo rígido. A gente ainda aprende. E então, quem quer jogar de novo?

Estava chato e quente. Era melhor com um ar-condicionado, pelo menos. Ou não. Melhor pensar que é um absurdo falar que falta alguma coisa na terra que Deus está sempre cutucando com seu dedinho. Então uma delas levanta e vai pro quarto. E falar que Deus não tem senso de humor mesmo tendo criado o onitorrinco é sacanagem. Obviamente acendendo a luz ela vê: janela, mão, pé e todo o resto.

Três da manhã, segundo andar e uma cidadezinha do interior. Um desajeitado e másculo oi faz o cachorro do vizinho uivar nervosamente para a lua com medo do agudo do grito da garota. O susto foi maior do que língua de manicure. Ele quase cai nove metros abaixo, com medo do medo ela. A garota imóvel ainda tentava entender que merda era aquela. Porque o imbecil pula de uma janela pra outra no exato momento que você está acendendo a luz? São três da manhã! Ele vermelho que nem pimentão pede desculpas e tenta explicar que a legaucidade da parada era ver que o espírito de Peter Pan persiste. Do nada ela começa a rir, agora sim todos acham que ela pirou. 

Chamar a mãe de profissional do sexo entre mais e mais risadas foi leve. Só quando um gritado PORRA PENSEI QUE FOSSE UM LADRÃO, SEU FILHO DA PUTA saiu é que ele riu também. Depois disso, só risadas e histórias disputadas de que eu tive o melhor ladrão na minha casa. O dedinho safado de Deus ainda está lá, como sempre, pronto para cutucar as melhores férias.



Por Robusti*

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

noite quente.

a noite quente atrapalha os pensamentos e a percepção do tempo, o calor é suportável com a ajuda do ventilador. a janela toma todo o quarto, é personagem principal de uma história curta:

- o que você acha?
- do quê? são 3 da manhã, não faço idéia do que você está falando...

suspiro um pouco de irritação.
...
- de nós? acha que vamos dar certo?

penso na possibilidade de não responder, mas era tarde. eu queria aquilo demais pra atender à minha necessidade fisica de ignorá-lo.
- não, acho que pra nós acabou muito antes.
- como? você não pode fazer isso, não agora.
- você quem perguntou.
...
- mas não era pra responder isso. agora me diz um motivo.
- não estamos num mesmo momento. quando você foi embora tínhamos uma harmonia, vivemos muita coisa juntos, coisas fortes e significativas... você foi embora e eu vivi coisas sozinhas e muito mais fortes, não consigo não te culpar por isso. agora eu tenho muita harmonia comigo mesma e não vou ameaçá-la por você ou por qualquer outro motivo.
...
o silêncio não era pertubador. eu ouvia seus pensamentos preenchendo o quarto: "por quê está aqui então? na minha cama, respirando no meu peito?"

- eu não devia estar aqui.
- e agora? eu achei que tínhamos chance.
- teríamos se não tivesse me perguntado.
- o que teria mudado se eu não perguntasse, você já estava pensando nisso, não estava?
- eu estava sentindo, é diferente. quando faladas as coisas tomam forma e viram uma outra coisa, mais real.
...
- tá quente, detesto esse colchão.
- eu sei, vou trocar. também prefiro o outro.

o som do ventilador deixa o ambiente ainda mais opressor. tem pensamentos de angustia e um mal-estar preenchendo o ambiente e não há mais nada para ser dito.
durmo sem sonhos e acordo a todo o momento. em meio a noite ele desapareceu, tão logo o sol surgiu meti-me em minhas roupas e abandonei.
abandonei apartamento, passado e uma história que tinha tudo pra ser bonita.



por A.Aurea

domingo, 11 de janeiro de 2009

Click

- Hã... É... Alô?
- Alô, quem é?
- Ei Nik, sou eu...
- Ah, oi.

Pausa.

- Pera ae. Porque você está me ligando?
- É que, bem... Estou preocupado Nik.
- É pra isso que você me ligou? Só pra isso?
- Não me entenda mal, não quero te irritar.

Pausa.

- É óbvio que você está preocupado, estamos brigando faz anos.
- Eu sei...

Pausa.

- Nik, eu não quero morrer.
- Mas quem falou em morrer? Ninguém falou DE FATO em morrer! Você sabe disso.
- Eu sei... Eu sei... Mas...
- Mas?
- Mas o Castro... Ele está sendo REALMENTE convicto.
- Hnm.
- Eu não quero morrer Nik!

Pausa.

- Ken, do que você está falando?
- Ele está apontando pra mim! Eu vi!
- Está... apontando?
- Sim! Isso! Fazem já 3 dias! Estou apavorado Nik!
- Hnm.

Pausa.

- É... Me dá um segundo, ok? Já te ligo.

Click.

- Oi! É...
- É?
- É... A situação não está boa não.
- Sim, oras! Eu sei! Porque você acha que eu TE liguei?
- Era para ele guardar. Guardar!
- Ele é louco, Nik! Como você pôde dar mísseis nucleares pra ele?
- Eu não achei que ele fosse TÃO louco assim.
- Como assim você achou que ele não fosse louco!? Você viu a foto!?
- Me dá um minutinho?

Pausa.

- Vi.
- Então!?
- É...
- É!?
- Ele é louco mesmo. Ele VAI matar todos vocês.
- Como assim ele vai matar todos vocês? Faça alguma coisa! Ele é do SEU lado!
- Ele não É do meu lado... Eu só pedi para ele guardar umas coisas pra mim. Só isso.
- Não importa! Arrume essa bagunça! Agora! Eu não quero morrer Nik!!
- Você só me liga quando está com problemas!
- Não é bem assim. Eu gosto de você.
- Está bem... está bem... Farei o que posso.
- Obrigado.
- Tchau Ken, se cuide.
- Tchau.

Click


por Robusti

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Falando sobre o quê mesmo?

É curioso e minimamente interessante tentar se ver de fora. Infelizmente não tenho uma alma que vague e, se vagasse, ela obviamente deveria me contar depois. Logo, não sei como sou sem ser a partir da minha própria visão.

Aliás, como gosto, sou e costumo ser prolixa, esse post será mais do que uma bíblia e à aqueles que forem heróicos o suficiente para chegarem ao fim, quem sabe não haverá luz no fim do túnel. Mas voltando ao meu espelho, me espanto muito ao perceber quão diferente posso ser, posso transparecer ou, ainda mais, o quão diferente posso ser conceituada pelas pessoas, por mais que eu não faça nada em relação a esse ou aquele tal fato.

Será que preciso ficar verborreiando imbecilidades ou ainda regurgitando cultura para que aqueles menos apessoados entendam que nem todos são bolhas de sabão?

Digo isso porque não só vovós, nerds, paulistas e afins nos cavam com a profundidade de um pires e ainda sim são convictos da nossa integridade. Cavam porque cavam, uns porque é socialmente necessário, outros porque é arrogantemente necessário e mais outros porque é compulsivamente necessário. Tudo doentinho.

Ah esqueci, era para ser rebuscada no post e mostrar meu bom português.