sábado, 28 de fevereiro de 2009

ALICE - Toda toda

Alice não sabia das consequências da vida. Na verdade, Alice pouco pensava nessas coisas. Doze anos não era idade de meninas e um futuro melhor andarem juntos.

Festas, sociais, rock'n'roll. Descolada e cheia de yeah-yeah-yeah a garota problema pouco entendia o que seria confusão. Alice pegava carona de moto para Angra com o amigo do ICQ para ir numa rave. Normal ué, amigo não era pra essas coisas? E dividir a casa com o amigo que se conheceu no metrô? Todo mundo tem problemas de grana.

Alice mesmo que adolescente inconsequente morava sozinha. Morava sozinha porque sua única família tinha 87 anos, perda de memória recente e sempre almoçava um número aleátorio do Mc Donalds.

Cheia do dinheiro e vazia de noção, Alice magrela fazia do seu nariz o bem o que entendesse. Além do nariz, o umbigo de Luana ia muito-bem-obrigado com seu mais novo piercing de borboleta rosa. Ninguém sabia disso, é claro. Luana não estava nesse mundo pra ficar mostrando a barriguinha pra qualquer um.

Segunda tinha o Carlinhos. Mas ele era simpático. Alice, não sabia muito bem porque tinha começado aquele rolo. Terça era sempre dia livre, pra variar o almoço, ir no cinema e coisas legais. Já quinta o André aparecia na sua casa pra dar uns beijos. Final de semana era do Guilherme, porque esse era o namoradinho. Ué, que mal tem?


por Robusti

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

peso.

- aaaai! meu estômago vai fugir.
- que vai fugir menina?!
- meu estômago. ele tá me batendo por dentro, eu sei que está tentando escapar.
- você é doida!
- não sou doida! você que não está na minha pele!

sabe, dizendo isso entendi que era verdade: o problema é que ele nunca esteve na minha pele. nossa comunicação jamais conseguiu ser mais (ou menos) que verbal. e falar estava começando a me incomodar.
quando digo algo, não quero que sejam palavras representando uma figura objetiva e sim que fiquem suspensas no ar, dando cutucões leves, fazendo cócegas nas pessoas ao redor, causando sensações. minhas palavras são sensações.
não era tão dolorido falar antes, eu estive ansiosa por falar tudo de mim e ouvir tudo dele, podia tocar as palavras e transformá-las em cubinhos sólidos, colocá-las no bolso e na verdade muitas delas eu ainda guardo. hoje em dia solidez não me atrai, e tenho lançado tantas coisas fora na tentativa de diminuir o peso da não-compreensão que carregar a minha leveza tornou-se um fardo insustentável.
quanto menos eu falo mais ele preenche o espaço de tempo com dúvidas, acusações, provocações e por fim, transforma meus momentos de silêncio reflexivo e tentivas de encontrá-lo na minha essência em momentos de constrangimento e culpa por não estar "ligada em fazer dar certo".

vendo esse olhar ansioso e esse nariz reto podia jurar ser um pedaço de mim, se eu esticar um pouquinho o braço posso tocar sua alma e talvez
- disse alguma coisa?
- não, eu não.
- achei que tivesse ouvido você resmungar.
- não resmunguei nada, só te encostei, não posso? pelo visto não, parece ter espinhos...
- espinho eu?! você
(...)

por A.Aurea

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Dance com um desconhecido

Haja como se a vida fosse assim
Simples como beijar um desconhecido
Aproveite cada risada dessa gente louca
Porque a loucura é um resgate da razão

Quando seu melhor amigo vier
Dê nele um beijo na boca
Abrace cada músculo de sentimento
Viva com cada fibra do todo
O mundo é nosso até o último espírito

Dance com os desconhecidos
Conheça um novo amar diferente
Venha pro carnaval de outro alguém
Esqueça tudo que você tinha em mente

Não vamos nos prender ao que dizem
Aqueles puristas sacanas inflando se prazer
Se você não sabe fazer algo belo
Faça algo que seja sincero

Seja um garoto feminino
Ou uma mulher-soldado
Desafie a antítese, faça seu paradoxo
Acabe com o que sua mãe acreditava
Se você não inventar estará acabado

Dance com os desconhecidos
Conheça um novo amar diferente
Venha pro carnaval de outro alguém
Esqueça tudo que você tinha em mente

Largue suas roupas no sofá
Curta sua nudez de janela aberta
Aproveite enquanto você pode girar
Note como é bom quando a gravidade te afeta
Não pode parar, não pode parar, não pode parar.

Faça da pornografia sua poesia
Transforme fluido em verso
Flua desejo em fantasia
Deseje estar sozinho no universo

E venha dançar com um desconhecido.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Henrique

Henrique desligou o telefone. Ele não se sentia bem. Não sabia, ao certo, o que era que incomodava. Cansaço, dor de cabeça, enjôo. Tudo era chato. Henrique sabia que muito daquilo tudo poderia ser mais uma ridícula tentativa de tentar se ocupar consigo mesmo e que não daria certo. Pedro estava na sala, lendo revista de mulher. Não tinha nem idéia do que se passava na cabeça de Henrique. Pedro, na verdade, não tinha muito porque pensar nisso e virou mais uma página. 

O calor abafava, o ventilador não funcionava e tudo tinha algum motivo para incomodar. Por mais que houvesse coisas novas em sua vida, olhe o Pedro lá na sala, Henrique perdia seu foco para fora do mundo e concentrava-se a oscilação da intensidade da luz do seu quarto quando alguém estava tomando banho. E como isso o incomodava. Tudo lhe dava dores de cabeça. 

A felicidade já não mais se encontrava ali. Pedro que era um cara legal, o divertia e o fazia sorrir quando estava por perto. Eles se gostavam. Mesmo assim Henrique tinha que procurar catalogar como e onde todas as coisas do mundo o incomodavam. A animação de Pedro até empolgava Henrique, que com desgosto o descrevia como um novo necessário. Ele sabia que não era feliz, mas não se achava triste. Era quase que impossível estar deprimido. Essas coisas só acontecem com os ricos, já dizia a revista de mulher. Então, perdido no mundo, Henrique continuava a se entediar.

Pedro vira mais outra página e o saco plástico fazia um barulho terrível por causa do ventilador do quarto. Henrique sabia que a culpa não era do saco mas mesmo assim o jogou fora. O enjôo aumentara e ter que levantar da cama para pegar o saco lhe mostrou que estava tonto. Pedro virou mais outra página e Henrique... Ele estava virando uma dona-de-casa. 


(continua?)


por Robusti