terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Uma árvore habitada
Que vou conseguir dizer, enfim
As certezas que tenho, até
Que garantem cada “te amo”, pois é.
O tempo desdobra, não vê?
E dura tão pouco, você
Que seria difícil se não fosse comigo, crer.
Então como fazer, como fazer afinal
Para deixar a saudade, tão normal
Longe das horas do meu dia, mortal
Sem precisar recorrer ao telefone, banal.
Porque é como você me faz sem saber
Uma árvore habitada de um ser
Um velho a brincar de criança a valer
Um religioso que adora beber
Um viciado que aprende viver
É você, você, você.
A semente, vai lá, já plantei
Demorou quase quatro estações, bem sei
E que frutos o céu mandou, intriguei
Exatamente o que precisava, falei!
Não me seguro, que vergonha
De ser uma pessoa como as outras, risonha
Satisfeito de ter alguém assim, que sonha
E dá força para superar qualquer coisa, céus, medonha.
Porque é como você me faz sem saber
Uma árvore habitada de um ser
Um velho a brincar de criança a valer
Um religioso que adora beber
Um viciado que aprende viver
É você, você, você.
É, criei coragem, amigo
De fazer a última pergunta que me aperta, no umbigo
Você quer mesmo namorar, namorar comigo?
por Tiano YiffiY
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Bist du Verrückt?
- Tschüss!
- Bis bald!
Terminava mais uma aula e ele foi até a secretaria para pagar uma prova de segunda chamada. Tudo muito corriqueiro. A secretária pediu licença, ia trocar o dinheiro na lanchonete e ele ficou ali sozinho, com o recibo na mão e pensando sobre a aula do dia, matéria difícil, mas de repente seus pensamentos o abandonam de forma abrupta e até cruel, sua mente se esvaziou por completo, abrindo espaço para aquilo.
Longo cabelo preto, assim como seus olhos, e bem lisos no meio das costas. Muito branca, seios agressivamente fartos e pernas à mostra – trajava um belo vestido verde decotado, mas não muito curto, “na medida certa”, ele pensou. Sentiu as pernas tremerem, as mãos suarem e no meio desse carnaval de sensações a secretária apareceu com o troco. Pegou-o com as mãos meio incertas do que estavam fazendo e com o canto do olho viu que a moça de verde tinha parado à porta do curso para conversar com uma professora. Ele ainda trocou algumas palavras aleatórias sobre amenidades com a secretária, mas elas saíam deliberadamente da sua boca porque a mente – e o rabo dos olhos – buscavam incessantemente pela moça de verde.
Se despediu da secretária e respirou fundo. – “Se eu desmaiar, chamem a ambulância” – deixou escapar em voz alta. Rumou à porta, tocou seu amuleto e foi em frente.
- Com licença, boa tarde – aqui um belo sorriso, misto de nervosismo épico com uma tentativa vã de não parecer um louco aleatório.
- Boa tarde... – ela tinha uma voz viva, encantadora. Ele continuou sorrindo.
- Pode me passar seu número de celular? – e sua tentativa de se mostrar são foi a zero.
- Oi?!
- É, seu número. – agora a face cínica mostrava algo como se isso fosse totalmente normal.
- Porque eu te daria isso?? Nem te conheço!
- Pois então. – ele respirou fundo e sentiu que seu diafragma sairia voando pelo nariz – Pois então, eu pensei em te pedir em namoro agora, mas poxa, nem eu aceitaria em namoro uma moça descabelada e aleatória com cara de maluca sem nem conhecê-la! Certamente um cinema, um sorvete ou quem sabe um passeio pela Lagoa Rodrigo de Freitas faria alguma diferença em algum tipo de avaliação. – ele disse tudo de uma vez só.
- ... – silêncio acompanhado por uma feição meio incrédula meio com medo.
- Começa com nove?
Não, não aconteceu assim, pelo contrário. Mas ah... er wollte mut haben...
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
While My Guitar Gently Weeps...
Você sabe que eu trabalho o dia todo
Feche os olhos e eu irei te beijar
Amor, amor, amor
Custou tanto para eu descobrir
Ninguém nunca me amou como ela me ama
O que quer que tenha acontecido
Haverá uma resposta
Certa vez eu tive uma garota
Eu não sei, eu não sei
Tente ver do meu modo
Como eu me sinto ao final do dia?
O amor era um jogo fácil de se jogar
por Mad
domingo, 18 de janeiro de 2009
Escolhas...
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Devil got My Woman.
demorei a levantar, não conseguia mover direito: trocaram meu corpo enquanto eu dormia.
tentei pôr meus óculos matinais - os de mau-humor matinal - mas eram pequenos, e eu enxergava mal com eles. Tentei colocar os óculos que usava quando estava surpresa, e os de quando estou assustada.todos ficaram pequenos, e todos incomodam minha visão.
meus movimentos são difíceis agora, eu quebro coisas frágeis, e meus joelhos doem o tempo todo. pareço pesada demais, muito peso, muita dor, muito incômodo.
quero saber onde foi parar o meu corpo.só isso.
braços grandes e fortes, corpo de homem.
de todo o ruim, o pior era estar sem a proteção dos óculos.entendo que esses novos olhos não precisam de grau, mas não consigo estar tão desnuda.
olhar no espelho me assusta, tenho medo de ter corpo de homem pra sempre.
já quis ser maquiadora, empreitera, professora, filósofa, publicitária, bilheteira de metrô, todas as coisas do mundo....mas homem nunca quis.
esse homem tem olhos azuis e porte atraente. tem 20 anos, parece, e cresceu rápido demais, sinto nos ossos. ser um homem bonito não vai facilitar minha vida, certamente não.
estou apavorada, e só quero saber onde está minha vida, pra ir buscá-la.ainda que seja no inferno.
por A.Aurea
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
fINALLY wE aRE nO oNE
Sem sentir saudades de sua cama ou tomar café, andou por duas quadras. Parando em frente à banca de revistas leu as notícias do dia, e viu sua cidade com os velhos e costumeiros relatos no jornal do dia: Homem degola esposa, três filhos e se mata depois. Os corpos somente foram achados pelos visinhos devido ao latidos do cachorro faminto. Suspirando Bernardo pensa: “Que porra de vida... e o que eu ainda faço por aqui?”.
Na padaria pediu um café com leite médio e um pão de queijo. Sentou o mais afastado possível da porta. No primeiro gole notou uma garota de olhos brilhantes e tristes a admira-lo. Usava um vestido laranja e tinha cabelos curtos. Sentiu que estava num misto de encantamento e susto. Ela aproximou-se com passos tímidos e perguntou: “Qual seu nome”. Sem muito pensar respondeu que era Roberto e sorriu. Era como se um caminhão de serenidade o tivesse invadido. Diante dele a possibilidade de ser outra pessoa...Uma história que pudesse ser construída antes de vivida. Ao escutar a pergunta do que fazia continuou seu relato fantasiado: “Sou topógrafo. Estou de passagem na cidade”.Frente ao crescente encantamento da mocinha, Bernardo resolveu não render assunto, era já uma curiosidade incômoda, ou simplesmente ele estava incomodado. Levantou-se e com um seco aceno de cabeça despediu-se. Sentiu que era acompanhado até a saída por aqueles olhos. “O que terei de tão curioso para ela me olhar assim? Tão linda...”.
Bernardo andou pensando arrastadamente sobre sua vida – “eu, solteiro, 27 anos, contador, morando a duas quadras do trabalho. Se for necessário um resumo de mim seria um nada; um nada com camisa verde e calça marrom”.
A essa altura estava diante de uma Livraria que muito gostava. Comprou um maço de Marlboro, jornais do dia e pediu um café expresso. Sentou e sentiu uma tristeza estranha no corpo.
Já com os ouvidos treinados, nesse domingo não teve dificuldade alguma para acordar. O despertador funcionou como se fosse um dia comum. Baseada nas rotinas do dia teria tempo disponível para tomar banho, e assim o fez. Colocou o vestido novo, e sentiu-se bonita como a muito não ousava sentir. Pegou o restante do dinheiro que tinha, colocou na bolsa e saiu, como fazia todos os dias, religiosamente.
Ela sofria de uma melancolia solitária. Veio para a cidade para estudar e continuou. Formou, arrumou emprego, saiu da casa dos tios, alugou um apartamento duas quadras do trabalho. Contudo não era feliz. A vivência da rotina estabelecida angustiava. Tinha pensamentos fantasiosos e nenhum interesse em relacionar-se com outras pessoas. Tinha. Desde que esbarrou com seu vizinho no elevador começou a criar o desejo que tudo fosse diferente. Descobriu que Bernardo trabalha no mesmo prédio que o seu, e desde estão estabeleceu uma organização da sua vida em função dos hábitos de Bernardo. Acordava na mesma hora, mesmo por que o rádio relógio dele é extremamente barulhento. Estava na portaria do prédio quando ele passava, e sem ser percebida iam juntos para o trabalho. No momento de voltar para casa tinha os mesmos comportamentos. E quando possível saia também à noite, na esperança de ser por ele notada. Havia quatro meses que não fazia outra coisa senão isso, ser uma sombra na vida de Bernardo. Cansada, prometeu-se uma ação.
Quando entrou na padaria sentia seu coração na garganta. Entendia tão bem o sentido da expressão que já achava engraçado. Ali estava ele, tão radiante com sua camiseta branca. Ela chegou a pensar imaculado, mas não era tão ingênua assim. Com todo sopro de desejo esboçou um sorriso e perguntou-lhe o nome. Sentiu-se uma idiota, fazia milhões de poemas mentais com esse nome, costumava até a dize-lo de trás para frente, divertindo-se O-D-R-A-N-R-E-B. Foi como se algo rasgasse de seus ouvidos até seu peito, quando escutou Roberto. “Quem é Roberto meu Deus? Eu tenho certeza que ele chama Bernardo, afinal já vi correspondências dele. Vou tentar perguntar outra coisa”.E seu espanto aumentou com a história descabida de que ele era topógrafo e não morava aqui. Diante das respostas e do aceno seco de cabeça sentiu desmaterializar-se. “Cadê a porra do chão para me sustentar?” Até quando a vista alcançou acompanhou seu caminho. Pensou em ir até ele, dizer da loucura que é estar tão apaixonada. Pensou em não fazer nada, não dizer nada. Só lhe restava voltar para casa. Ou não, ainda tinha alguns reais na bolsa. Resolveu naquela hora que realmente Bernardo não existia. Não era ninguém com quem devesse preocupar, nada. Atravessou a rua e conversou com a dona da banca, que já era uma velha conhecida. Folheou uma revista feminina e pôs-se a andar. Parou diante de um lugar que lhe agradou os olhos. Entrou e pediu uma coca cola light lemon. Ficou muito tempo admirando os livros, pegou Pensamentos de um Samurai Moderno, levou ao caixa e foi correndo para casa ler.
Bernardo não acreditou quando viu aquela moça tão linda entrando na Livraria. Era como se tivesse suas preces atendidas. Sentiu-se um idiota por não ter falado seu nome verdadeiro. Quando ela passou por ele e nem o notou era como se toda a vergonha de querer ser Roberto o invadisse. Docemente ela dedilhava os livros na estante e bebia seu refrigerante. Quando ela saiu apressada, perguntou ao caixa qual livro era, diante da resposta comprou um igual. Passou o restante da tarde e início da noite lendo. Apagou a luz do abajur e fechou os olhos para esperar o sono.
Ela ficou a tarde lendo. Tomou banho no final do dia. Sentiu-se lavada. Fez as sobrancelhas, colocou o pijama e voltou para a leitura. Não tinha nada mais além daquilo, e nem mais o gosto bom nos olhos que sentia desde o dia em que recebeu o sorriso do Bernardo, ou será Roberto?
Lorotinha Parte Três. 2ª Edição
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
noite quente.
domingo, 11 de janeiro de 2009
Click
- Alô, quem é?
- Ei Nik, sou eu...
- Ah, oi.
Pausa.
- Pera ae. Porque você está me ligando?
- É que, bem... Estou preocupado Nik.
- É pra isso que você me ligou? Só pra isso?
- Não me entenda mal, não quero te irritar.
Pausa.
- É óbvio que você está preocupado, estamos brigando faz anos.
- Eu sei...
Pausa.
- Nik, eu não quero morrer.
- Mas quem falou em morrer? Ninguém falou DE FATO em morrer! Você sabe disso.
- Eu sei... Eu sei... Mas...
- Mas?
- Mas o Castro... Ele está sendo REALMENTE convicto.
- Hnm.
- Eu não quero morrer Nik!
Pausa.
- Ken, do que você está falando?
- Ele está apontando pra mim! Eu vi!
- Está... apontando?
- Sim! Isso! Fazem já 3 dias! Estou apavorado Nik!
- Hnm.
Pausa.
- É... Me dá um segundo, ok? Já te ligo.
Click.
- Oi! É...
- É?
- É... A situação não está boa não.
- Sim, oras! Eu sei! Porque você acha que eu TE liguei?
- Era para ele guardar. Guardar!
- Ele é louco, Nik! Como você pôde dar mísseis nucleares pra ele?
- Eu não achei que ele fosse TÃO louco assim.
- Como assim você achou que ele não fosse louco!? Você viu a foto!?
- Me dá um minutinho?
Pausa.
- Vi.
- Então!?
- É...
- É!?
- Ele é louco mesmo. Ele VAI matar todos vocês.
- Como assim ele vai matar todos vocês? Faça alguma coisa! Ele é do SEU lado!
- Ele não É do meu lado... Eu só pedi para ele guardar umas coisas pra mim. Só isso.
- Não importa! Arrume essa bagunça! Agora! Eu não quero morrer Nik!!
- Você só me liga quando está com problemas!
- Não é bem assim. Eu gosto de você.
- Está bem... está bem... Farei o que posso.
- Obrigado.
- Tchau Ken, se cuide.
- Tchau.
Click
por Robusti